17 de dez. de 2010

Sinopse

Duas mulheres, em um espaço/tempo indeterminado, falam ao público sobre suas visões de mundo, anseios e experiências. Os limites da comunicação, a solidão, a revolta contra a morte, a palavra poética e a tentativa de apreensão do tempo são os temas que permeiam essas falas, carregadas de um humor histérico. Inspirado em “Água Viva”, de Clarice Lispector, e em obras de outros autores.

Mais sobre

Este trabalho teve início com uma pesquisa de iniciação científica realizada por Amanda Dias Leite e Og Esteves no âmbito do curso de Artes Cênicas da UFMG, e sob orientação do Professor Doutor Antônio Barreto Hildebrando, no período de 2004/2005. O objetivo principal era realizar uma tradução intersemiótica do livro Água Viva, de Clarice Lispector e o conceito de tradução intersemiótica adotado baseou-se na transcriação de uma obra existente em determinado sistema de signos – no caso, a literatura – para um outro sistema – o teatro. No decorrer da pesquisa, por meio de um processo de apropriação, o texto original foi modificado e ressignificado.

A partir de 2008, o trabalho foi retomado por uma nova equipe formada por Amanda Dias Leite, Júnia Pereira e – a partir de 2009 – Marina Viana e Geraldo Octaviano, e desta vez houve uma transformação mais radical do texto literário clariceano e de outros autores "antropofagizados".  A partir do lugar de enunciação da equipe, foi criada uma dramaturgia própria inspirada na obra de Clarice, bem como em textos de Ernesto Sábato, Ferreira Gullar e Caetano Veloso, para citar algumas das referências, sempre ancoradas na experiência dos artistas, suas questões, vitórias e fracassos. O desejo de cantar Nélson Gonçalves ou vestir-se de Liza Minelli...

A dramaturgia foi estruturada em um prólogo e dez blocos que passeiam pelos seguintes temas: os limites da comunicação, a solidão, a revolta contra a morte, a palavra poética e a tentativa de apreensão do tempo e da existência. A simplicidade dos recursos cenográficos vem ao encontro do protagonismo do texto e da ação vocal, que se quer nesta encenação fugir ao “teatral” e à declamação solene, e se aproximar da fala cotidiana. A relação com o público é resultado da maneira como se constrói a atuação: intimista, naturalista, num lugar coloquial – uma linha muito tênue separa o real da representação. O público é convidado a decifrar e completar o sentido do espetáculo que parte do universo das artistas, porém não no sentido estritamente biográfico: “Eu construo uma coisa isenta de mim e isenta de você - e isso é que é a minha liberdade. Isso aqui, que é a vida vista pela vida. Porque aí eu posso não fazer sentido, mas vai ser a mesma falta de sentido que tem o meu coração batendo aqui. Ou o seu. Ouve o que eu digo e dessa falta de sentido vai nascer um sentido”.